sábado, 27 de junho de 2009

Eu guardo tudo

Custa-me imenso desfazer-me de certas coisas que me trazem qualquer tipo de recordações, quer sejam boas ou más. Na adolescência guardava tudo o que eram papéis: bilhetes que recebia, cartas de amigas, conversas escritas em páginas de cadernos de aulas, bilhetes de autocarro, de comboio, tudo. Quando comprei o meu primeiro telemóvel (com 17 anos) guardava as mensagens todas, as que não cabiam na memória do telefone copiava para folhas de papel que guardei religiosamente durante anos. E ainda hoje, todas essas coisas permanecem na casa dos meus pais. Não as quis levar comigo para a minha vida nova, mas também não consegui desfazer-me delas.

Só me lembro de uma ocasião da minha vida em que me desfiz de muitas coisas, todas elas respeitantes ao mesmo assunto. Foi uma fase muito complicada da minha vida e senti a necessidade de apagá-la mesmo da minha memória. Rasguei em mil bocadinhos tantos papéis, tantos... Enchi um saco de lixo dos grandes de lembranças e recordações. À medida que ia pondo as coisas no saco ia sentindo alívio. Quando o larguei no contentor foi como se me saísse um peso da alma. Por momentos senti-me vazia; mas logo depois veio o alívio, a calma, a tranquilidade. E, até hoje, foi a única vez que quis apagar, desfazer-me, definitivamente, de memórias. Do passado. Hoje, recordo-me daqueles maus momentos como se não fossem memórias minhas, como se não me tivessem acontecido a mim, mas a outra pessoa. Fizeram-me crescer. Fizeram-me descobrir-me a mim própria, mas hoje não significam quase nada. E sou feliz, por um dia ter optado por não guardar aquelas coisas.

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