Não acredito em coisas pré-destinadas. Acredito que as escolhas que fazemos nos vão encaminhando para situações que têm a sua razão de ser. Acredito que há coisas que nos acontecem simplesmente porque precisamos de aprender algo com elas. E acredito, que se não aprendemos à primeira, teremos sempre uma e outra oportunidade, com contornos diferentes, mascaradas de sentimentos e emoções distintos, mas que nos final deixam a mesma lição.
Acredito que temos que estar atentos aos sinais que a vida nos dá. Também acredito que há pessoas que passam pela nossa vida porque têm algo para nos ensinar. As más experiências, nem sempre são assim tão más, se soubermos tirar partido do que nos ensinaram. Acredito que sem conhecermos o "muito mau" nunca saberemos o que é "muito bom". Tem que haver um termo de comparação, mesmo que nunca comparemos. É nas coisas mais pequenas que notamos a nossa aprendizagem. São os pequenos gestos, os pequenos sinais, que nos despertam os ensinamentos da vida.
O mesmo é no amor. O primeiro amor nunca é apagado, é aquele que deixa marcas, cicatrizes até. Depois dele, a vida continua, o amor transforma-se em ternura, ou até mesmo só em recordação, mas há sempre qualquer coisa que continua presente. O primeiro amor quase perfeito deixou feridas que só o tempo conseguiu sarar. Depois fui de um extremo ao outro, e embora consciente, deixei-me levar. Aprendi muito, talvez mais do que com o amor perfeito. Aprendi que só podemos ter a certeza do que queremos depois de termos a certeza do que não queremos. Mas foram também as feridas ainda abertas do primeiro amor que me ensinaram isso. As comparações inevitáveis, as recordações cada vez mais acessas, a luz ao fundo do túnel que me acenava com cor de esperança, deram-me todas as forças do mundo para matar o que me fazia mal e abraçar a vida, mesmo que agarrada a ténues recordações. A esperança de reavivar a chama do primeiro amor perfeito, não outro, o mesmo, manteve-me sã, deu-me a euforia necessária para me desamarrar do colete de forças que me sufocava. Depois, a esperança desvaneceu-se. Tinha que ser assim, não havia mais nada a fazer, apenas deixar as recordações e não mexer nas feridas. Deixá-las sarar.
No fim, veio a serenidade. A calma transportou-me para um novo amor, mais maduro, mais tranquilo. O amor para a vida, assim espero. O passado, as feridas, os melhores e os piores momentos, fizeram-me amadurecer. Fizeram-me olhar em frente e dar valor às pequenas coisas. Este amor, que não me arrebatou num instante, mas que me conquistou e continua a conquistar a pouco e pouco, é forte, muito forte, e muito valioso. E se não fosse o caminho, por vezes sinuoso, que me levou até ele, não lhe daria o devido valor. Não saberia, certamente, disfrutar dele no seu maior esplendor. Não me faria tão feliz. O passado só faz o presente ficar mais claro. Agora vejo nitidamente o presente e vislumbro o futuro.